do PÓ ao PÓ: eu sei ver hora, porra!

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eu sei ver hora, porra!

Published quarta-feira, março 15, 2006 by Zé | E-mail this post

Então a beijei...

Foi assim, exatamente como acabei de contar a vocês, que eu, pela primeira vez em minha vida, ouvi de alguém que eu sou importante... E depois de tudo isso, depois das lágrimas e das dores, e depois do consolo e do carinho, ela foi embora, enquanto eu dormia... E quando acordei, olhei para o lado e não tinha ninguém... Como eu quis chorar...

Mas encontrei um bilhete no espelho do banheiro...

"Minha melhor noite, Meu melhor homem, minha melhor saída...

Volto antes das 3"

Sem entender muita coisa, lavei meu rosto, escovei meus dentes, me olhei no espelho, nu... É... Estou engordando... Se fosse uma personagem de conto erótico, diria "tenho um corpo atlético, ombros largos e bla, bla, bla..."

Mas a cerveja e os contos eróticos não podem coexistir em minha vida...

Mas ainda assim, o corpo que eu via no espelho tinha acabado de pertencer a uma das mais fascinantes mulheres que já vi... Certamente a mais fascinate que já toquei... E agora tinha um bilhete, que eu não tinha entendido... E que, apesar de minha auto-estima mediana para baixa, eu interpretei (ao menos em parte) como um elogio...

Se ela iria voltar àntes das 3 da manhã, se atrasou... A não ser que voltou e me encontrou dormindo... E saiu de novo... No relógio: 9:32h

O telefone toca... Celular... Dela... Se ela deixou o celular, é sinal de que volta mesmo... Ou de que eu sou um puto e o telefone é meu pagamento...

Atendo. Alô? Alô, a Cláudia? Não está... Com quem falo? Um amigo, Marcos... Marcos... Sei... E o que o celular dela tá fazendo contigo... Ela do... Quem quer saber?

Sou o namorado dela...

Pow! Porrada na boca do estômago...

Namorado? Sim, porquê? Ela não me disse que tinha namorado... Vem cá , vocês transaram? Pra quê você qu... Vaca! Aonte ela tá? Não sei, o que... AONDE ELA TÁ, SEU VIADO? VO

Desligo o telefone...

Epa! Porque não tinha o número desse cara na agenda do aparelho dela? O Telefone tocou e não apareceu nenhum nome, só o número do cara...

Ligo de volta... Do meu telefone...

(Voz disfarçada) Alô... (Uma mulher... Senhora...) Alô, Bom dia, Com quem falo? (Pensei num nome... Zé) É o Zé, colega de faculdade da Cláudia, ela está? Porque você quer falar com ela neste número? É que ela ligou pra mim e o número dela na BINA era esse... Amigo, então houve um engano... A única Cláudia que eu conheço não usa o te... (Voz ao fundo diz "Não, mãe... A Ana... Deixa eu..." E termina a frase com uma coisa que eu nem consegui entender... Ouço um "Aaaah! desculpe..." da senhora, já distante do telefone, e o barulho do aparelho sendo trocado de mão)...

Alô? (Agora era uma voz de homem do outro lado, O namorado...) Oi, você é o namorado da Ana Cláudia? (Pensa um pouco antes de responder) Sou sim, porquê? Só pra responder à tua pergunta... Eu transei com ela sim... O Cara Balbucia algum palavrão e desliga... Deu o troco...

Não é namorado... Mas eu não entendi o porquê de mentir... Deitei na cama...

O perfume dela estava forte no lençol... Pensei em arrumar a cama... Preferi ficar ali, cheirando o travesseiro, lembrando da noite...

Depois daquilo tudo que eu contei, ainda fomos para fora do restaurante... Com o que tinha acontecido a pouco, o clima estava desagradável, todos nos olhavam, então preferimos sair...

O Garçon ainda veio nos devolver o terceiro bilhetinho quando íamos pagar a conta... Mas sem os outros três, não seria útil...

Ela não estava olhando nos meus oçhos desde a hora em que o copo de cerveja quebrou... E eu queria conversar com ela direito... Acho que a culpa de todo mundo ter saído e deixado a gente daquele jeito não foi nossa... Mas convencê-la disso não estava sendo possível... Eu só não sabia qual de nós dois ela estava culpando...

- Ana...
- Que foi, porra?
- Olha pra mim...
- Tô olhando, pronto!
- Você não acreditou quando eu falei... Então porque me beijou?
- Você me beijou...
- Tá, porque me deixou te beijar?
- Queria que eu fizesse o quê, te batesse?
- A força não foi... E quanto a bater, a garrafada na testa não conta?
- Foi outra coisa...
- Ainda está sangrando...
- Foda-se, a testa não é minha, é tua...
- Porque o beijo, Ana...
- Pergunte pra você mesmo...
- Eu te beijei porque vi que você queria... Se não queria, porque deixou? Se queria, porque tá assim agora?
- Talvez por tudo o que você me falou na frente de todo mundo? Que tal?
- Porra! Eu gosto de você... Tu sangra a minha testa e eu tô aqui, esmolando resposta? Quer saber, foda-se!

Virei as costas e saí de perto... Senti uma mão em meu ombro...

- Marcos...
Me virei - O quê?
- Eu dou na primeira noite?

Me abraçou e me deu outro beijo... Dessa vez foi ela mesmo... Eu não acertei nenhuma garrafa na testa dela...

O celular tocou... A irmã dela...

Marcos? Eu... Cadê Aninha? Boa pergunta... O que cê tá fazendo com o celular dela? Falando contigo... Ô seu babaca, fala direito comigo, seu ignorante? Eu não tenho motivo algum pra falar direito contigo... Porra, Mark, não fui eu... Foda-se se não foi... Você sabia e não interferiu em porra nenhuma... Tá, agora a culpa é minha? E não é não? O João te ligou, contou que eu ia, e você, fez o quê? Eu esqueci, pô! Não quero saber, Amanda! E hoje o namorado dela ainda me ligou! Pra tua casa? Não, pro celular... Teu? Não, dela... Eu não tenho celular... Nem ela tem namorado... Quer dizer... Não que eu saiba...

Hum... Bingo!

Ela dormiu aí? Dormiu... E rolou alguma coisa? Não te interessa! Então rolou... Ô, sua vaca! vai... Mark, para! Porque você tá tão irritado?

Lembrei do episódio da noite anterior, o do restaurante... Meus olhos se encheram d'água...

Tchau, amanda... Mas voc... Tô me despedindo pra não desligar na tua cara, puta...

Desliguei... Fui pro banheiro...

"Minha melhor noite, Meu melhor homem, minha melhor saída..."

Melhor saída? Eu queria entender essa frase... E será que o melhor homem sou eu mesmo, ou eu estou fantasiando coisas no tal bilhete?

Olhei no relógio... 10:13h... Vai ser foda esperar até as 15:00h... Se bem que ela disse antes das 3, e não EXATAMENTE às 3...

Me olhei no espelho... Uma marca de unha em meu braço direito... Uma ferida de garrafada na testa... Do lado direito... O perfume dela ainda tava em mim...

Fui até a geladeira... Leite gelado... Fui até a dispensa... Biscoito de coco... Fui até a sala... Filme pornô... Vídeo cassete... Coloquei no volume 57 pra vizinha do lado ouvir... Ela fazia o mesmo com o Evanescence...

A vizinha fica o dia inteiro sozinha em casa, tem 17 e acha que é roqueira... O pai dela reclamava do coturno escroto dela, mas era bem mais roqueiro que ela, apesar de nem perceber isso... Quando morava aí, me emprestava uns discos do Led Zeppelin... Mas aí ele e a mãe da guria se separaram... Ela vive cheirando cocaína com as amiguinhas quando a mãe tá pro trabalho...

Telefone toca... Atendo...

Alô? Márcio? Não, deve ser engano... Tem certeza? Sou o cara da faculdade, o Arto... Ah! Sim, o número é certo, você só trocou o nome... Ah! É Marcos né? É... Foi mal... Que isso... Pois sé, cara... EU precisava dum favor seu... Diga... O Pessoal daquela banda do teu amigo... A gente precisava entrar em contato com eles, você tem o número do magrelinho? O Saulo, tenho sim... Isso, Saulo... Cara, me passa o telefone dele? Claro... Um instante...

Vou até a mesinha... A campainha toca... É a roqueira do apartamento ao lado... Não abro a porta... Pego a agenda... Digo o número... Digo que não precisa agradecer... Desligo o telefone... Olho de novo pelo olho mágico... Ainda tá lá... Abro um pouco a porta...

- Bom dia, senhor Marcos...

(Que bizarro! Ela sabe o meu nome!)

- Bom dia...
- Suzanne
- Bom dia, Suzanne...
- É que eu liguei para cá... Tava ocupado... Aí vim falar contigo...

(Ela tem meu telefone?)

- Vou vestir uma roupa e já volto...

Eu não precisava dizer isso, mas acho que ela já tinha percebido que eu tava pelado...

Ela entrou...Não estranhou quando me viu completamente nu... Voltei vestido...

- Er... Suzanne...

Olhou pra mim...

- Olha... Eu não lembro de ter te passado o meu telefone...

A televisão ainda gritava "Oh! Fuck-me!"... Ela pegou o cinzeiro...

- Seu Marcos, olha só...

Parou um pouco...

- Eu tô te espionando...
- Quê?
- Quem é a menina que dormiu aqui contigo...
Você vi...
- Quem é?
- A que horas ela saiu?
- Umas 8 horas... Quem é ela?
- Amiga... Porque?
- É que... Eu fiquei muito triste em ver uma outra menina aqui contigo...

Cacete! Só falta essa menina dizer que é apaixonada por mim...

- Olha... Ela foi embora... Eu não sei quem é a irmã dela, mas deu pra ver que você e ela não se dão bem... Porque você transou com ela...
- Oras, menina, francamente... Saia de minha casa... Você tá grampeando minha li...
- EU TE AMO, PORRA!
- Ama o caralho! Nunca grampeei telefone de nenhuma namorada minha...

Puxou uma arma e apontou pra mim:

- QUE NAMORADA, SEU PUTO? VOCÊ NUNCA NAMOROU NINGUÉM...

Ela tava gritando e chorando, e eu tentei falar algo... Em vão...

- ERA PRA VOCÊ CONTINUAR SÓ MEU! SÓ MEU!!!
- Eu nunca fui teu... Do que cê tá..?
- Eu te mato, eu me mato, vamos juntos pro inferno, que tal?
- Nada feito, sou gente boa e vou pro céu...
- NADA DE PIADA! (BLAM! um tiro na minha perna... direita)

Caio, a desgraçada me fez sangrar o carpete... Um 69 na TV...

Celular toca...

- Eu atendo! - Grita ela

(Opa! Como ela pode ter me grampeado, se eu falei com a Amanda foi pelo celular da Clau?)

O cinzeiro no sofá... Manco até a porta do quato...

Não me chamo Ana não, diz ela... Sim, o aparelho é de uma puta que dormiu na cama de meu marido... Mas eu vou dar um jeito nos dois...

Quem será que tá do outro lado?

- Filho duma jega! Desligou...

"Jega"? Minha avó falava isso!!!

- Quem era?
- NÃO TE INTERESSA!!! (BLAM! Tiro no sofá)...

Toca de novo o celular...

Cláudia é o caralho, sua puta!, ela gritou... Não te interessa (devem ter perguntado quem tá falando)... Sua irmã tá é fudida (Acho que é a Amanda [ou não, porque ela já sabe que o celular tá comigo])... Eu vou unf...

Acerto o cinzeiro na nuca dela... Cai...

É... A Suzanne é gostosinha... Ainda mais desmaiada... Pego a arma... Pesa mais do que eu imaginava... Não é que nem as de plástico... Eu deveria ter imaginado... Amarro a vadia com um lençol... Vou até a sala... Tô com o gosto do leite e do biscoito na boca, quero terminar de comer... Vou mancando...

Quando volto pro quarto... Ela tá morta... Cortou o próprio pescoço com a quina do criado... Como ela fez isso, eu não sei... Sei que ela me deixou sem respostas...

E ainda não deu três horas... Só as da madrugada...