Dos Pés à Cabeça / De norte a sul / De ponta a ponta / do início ao fim



Qual é a música? Posso saber? (parte 2 e final)


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Parte 1

Eu acho que não bato bem da bola... Ficou ele, com aquela cara de "Não, eu não mijei nas calças! Foi a doida da Ana Claudia que derramou a cerveja em mim!", olhando para a minha cara de "Se você me chamar de burra de novo eu te capo cum uma dentada"... Todo mundo olhando...


Ai ele levantou e olhou pra mim, alterado... Falou num tom de voz baixo, mas que todo mundo no recinto conseguiu entender com clareza: "Desisto de tentar te entender"... E foi andando pro banheiro masculino... Aí todo mundo tava ou olhando pra ele ou pra mim... O Jão tava olhando pra mim... Com uma cara de "Você deveria estar olhando pra ele e não pra mim, Clau"...

Aí eu não sei se eu fiz o que eu lembro que fiz, mas eu me lembro que corri, segurei no ombro dele e ele olhou pra tras... Aí eu puxei ele pra perto de mim, sussurrei "você é a coisa que mais me importa nesse mundo agora", dum jeito que só o anjo da guarda dele, ele e eu ouvimos... Aí me grudei nele e fiquei na ponta dos dedos pra dar um beijo dele... Ele amoleceu todinho, como se fosse um gatinho vendo leite depois de três dias de jejum... Aí veio com a sede toda e me beijou antes que eu o beijasse, aí eu amoleci junto com ele... Aí ou ele me levantou ou eu flutuei, porque nem as pontas de meus pés estavam tocando o chão mais...

Eu senti as mãos e os braços deles em minhas costas... Depois senti as costas dele em meus braços e minhas mãos... Uma coisa de cada vez, porque se sentisse isso tudo ao mesmo tempo e junto com a boca dele na minha, acho que explodiria ali, grudada nele... Aí senti um cheiro de flor de maracujá... E percebi que ele tava sentindo, pelo peito dele grudado no meu, o desespero com que o meu coração batia... Tudo muito técnico... Já que vou explodir, o meu coração tem que bater nos meus próximos 17 segundos o que teria de bater nos meus próximos 62 anos de vida... Simples desse jeito...

Aí ele nos separou , de súbito... Segurando firme na minha cabeça... Olhou nos meus olhos, deve ter visto a minha alma ali... Eu vi o paraíso... Aí disse "Não vale a pena tentar te entender mesmo, né?"...

"Pra quê?" respondi... "Desessete segundos de paz me fizeram não fazer mais questão de achar respostas"...

Aí ele riu e disse "Já desisti", e me beijou de novo... Gato em jejum quaresmal mergulhando num pacífico de leite... Guitarra de Petrochi... Quando eu acordei do transe o restaurante reapareceu ao nosso redor e nós dois estávamos sem fôlego...

Silêncio profundo no ambiente...Minha cabeça apoianda em seu peito... Mais disparado que o meu, o dele... "Não vai secar a calça?" , "Não, eu só ia ao banheiro pra chorar escondido...", "Promete pra mim que vai me encher de porrada na primeira oportunidade que tiver?", "Promete pra mim que nunca mais me acerta nada de vidro na testa?", "Só se vc prometer nunca falar mal do Rimbaud"...

Eu adoro Rimbaud, disse ele...

Aí me deu uma sensação estranha, de que tudo estava errado... Mas como eu não sabia que grau de "tudo", saí dos braços dele e o empurrei... Quando me virei pra mesa, vazia...

Até o Jão tinha se levantado... Ele fez uma cara de que também não tinha notado que tinhamos sido abandonados ali, mas eu achei que tinha muita coisa errada pra eu me dar o luxo de sonhar que teria direito de crer em algo dali pra frente...

Ele tentou me abraçar de novo, na intenção de me consolar do susto ou de se consolar pela situação... Aí eu não soube o que fazer e fiz a primeira coisa que me veio à cabeça... O empurrei e gritei "Rimbaud não é turco!"...

- Calmaê - Fez uma cara de quem acabou de entender a trama do livro que tá lendo há três semanas - Foi você quem me mandou aqueles poemas todos?!?

Disse que sim... Eu já tinha dito pra ele que sim, oras...

- Poxa! Tem um mal entendido aí... As cartas que eu falei são outra coisa...

Me soou a mentira mais descarada do mundo... Aí ele chamou o garçon, e tateou o bolso atrás de algo, até descobrir que o único bilhete inteiro tinha sumido...

Pediu a conta... Pagou a dele, eu, a minha... Fiquei emburrada... Ele tentou falar comigo e eu não dei confiança...

Minha bolsa estava em cima da mesa... Fui pegar o dinheiro, ela estava meio mal fechada, com um papel atrapalhando...

Era um bilhete... Do Jão...

"Clau, melhor deixar vocês conversarem...

Eu falei pra tua irmã que o Mark ia poder vir hoje, e que ele passaria na tua casa pra te buscar...

Pena que você não recebeu o recado, porque ele foi e deu viagem perdida...

Beijos, João Pedro..."

Aí eu olhei pra cara do Marcos... Aí me deu raiva do mundo... Quis sair correndo, mas antes disso, fui pagar a conta...

Ficamos os dois parados... Ele do meu lado, querendo não demonstrar que queria me abraçar, mas com medo de tertar e rolar outro escândalo... Eu, do lado, com a cara emburrada, fingindo que não queria abraçá-lo, mas preparada pra empurrá-lo assim que ele me abraçasse... Como eu notei que não ia resistir e ia tentar abraçar ele antes dele tentar me abraçar, decidi mexer na bolsa... achei o celular lá e pensei em ligar pra Bia, mas liguei pra Amanda, que foi um pretexto menos na cara...

Ana Claudia? Bia, o que o Jão falou contigo? Porque? Bia, O QUE O JÃO falou contigo...

Meu fofo ficou antenado, como cão preso no quntal, quando percebe que tem outro cachorro apontando lá na outra esquina...

Ele falou da pizzaria... Aquilo que eu te... BIA! ELE FALOU SOBRE O MARCOS? - aí ela não falou nada e eu ci que ele tinha avisado pra ela mesmo - PORQUE VOCÊ NÃO FALOU NADA, SUA VACA?

- Calma, Ana, calma, ele disse...

Eu falei baixinho, com minha irmã:

Amanda, você... Desculpa, Aninha, eu tinha esquecido... De verdade... Avisa pra Mãe que eu não durmo em casa!

E desliguei... Eu não ia dormir fora de casa... Mas ela ia pensar que eu ia dormir com alguém e ia se doer pelo cuzão do amigo dela... Deve ter feito isso tudo por ele...

Deu ódio... E eu não sei se era dela, dele (qualquer um os "eles" envolvidos na história), de mim ou do Hermeto... E não sabia qual seria a solução agora agora... Ou eu fugiria correndo assim que o garçon pegasse a grana, ou eu o jogaria na mesa e o espancaria com o frasco de azeite que ainda restava na nossa mesa ou eu me jogaria em seus braços e transaria com ele ali mesmo, em cima do frasco de azeite e do pote com sal... A primeira opção certamente era a melhor saída... A Melhor saída para a minha pior noite...

Tava preparada pra correr, mas a gente saiu andando junto... Eu nunca escolho a melhor saída...

Fiquei rezando pra ele fingir que eu não estava ali e irmos logo pra longe um do outro... Aí ele chamou o meu nome...

"Que foi, porra?", eu perguntei... Aí ele pediu pra olhar pra ele... Eu queria olhar, mas não queria... Aí, ainda antes de olhar, fiz uma cara de raiva e olhei pra ele já com a cara de raiva... Disse "Pronto, olhei"... Aí ele perguntou porque eu beijei ele, se eu não tinha acreditado no que ele tinha dito...

Eu fiquei meio sem jeito... Mas minha cabeça funcionou rápido, eu lembrei que eu ia beijá-lo, mas ele acabou me beijando antes... Aí eu falei que ele é que tinha me beijado, dando ênfase ao "VOCÊ"...

Aí ele perguntou porque eu deixei ele me beijar... Aí eu perguntei se ele queria que eu batesse nele... Aí pensei "PORRA, não tinha nada mais idiota pra mresponder não?"... Acho que ele pensou a mesma coisa... Que fez uma cara de quem chupa maracujá e mastiga a semente... e disse que não tinha sido a força... é... não tinha sido à força...

Depois ele falou da garrafa mais uma vez... Aì eu disse que a garrafada foi outra coisa, mas nem eu sabia mais... Eu ainda precisava de umas duas horas pra assimilar tudo o que aconteceu ali...

Minha pior noite...

Aí ele jogou na minha cara que ainda estava sangrando... E nem estava sangrando porra nenhuma... tinha parado há horas... Aí eu mandei ele pra merda e disse que não tava nem aí pra testa dele... Mas eu tava sim...

Aí ele insistiu no motivo do beijo... Acho que ele e eu sabíamos que se ele não me beijasse, eu o beijaria... Mas eu insisti em querer crer que foi ele quem me beijou e que eu era uma donzela indefesa e enganada... Falei pra ele que ele é que deveria saber o motivo...

E ele disse que o motivo dele foi ter visto que eu tava afim... aí falou algo como "Se não queria, porque deixou? Se queria, porque tá assim agora?"

Aí eu lembrei das coisas que ele me disse e disse pra ele que fiquei chateada... Mas além de ele não saber de tudo o que tinha passado por minha cabeça, ele tinha dado uma desculpa pro lance das cartas... Se bem que eu não tinha entendido lhufas...

Aí ele escolheu a pior ordem pra dizer as coisas que disse depois...

Primeiro, disse que gostava de mim... Aí eu fiquei, por alguns segundos, nas nuvens... Por alguns segundos... Depois ele jogou na minha cara que eu tinha quebrado a porra da garrafa naquela porra daquela testa linda dele... Me senti uma babaca descontrolada, descontando minha TPM num pobre rapaz inocente... Depois disso, ele disse que tava mendigando uma resposta minha... Aí deu ainda mais dó dele... aí fez aquela carinha de cachorro sem dono, fofinha... Só por frações de segundos... Porque depois ele fez aquela cara de "Vá pra casa do Caralho", e falou "Quer saber? Foda-se!"...

Aí virou as costas e saiu...

Aí eu respirei fundo e senti o ar entrando em meus pulmões... Parecia o movimento dele com o bater das asas de um cupido...

Aí lembrei da Bia e do Jão... Eu não era o cupido dos dois... Eles é que eram os meus cupidos...

Aí lembrei do Jão, olhando pra mim: "Você deveria estar olhando pra ele e não pra mim, Clau"...


Aí fui... Fui depressa até tocar o ombro dele... Aí lembrei da Bia e quase ri, mas acabei chamando o nome dele... Ele se virou... Perguntou o que eu queria...

Aí... Aí eu perguntei "Eu dou na primeira noite?", e o abraçei...

Ele não entendeu, mas eu, ávida por saciar minha sede, corri na frente, antes que ele entendesse, antes que ele pensasse, antes que ele tentasse... Beijei-o desesperadamente... Beijei na intenção de ele não ter tempo de me beijar antes... Não dessa vez...

Só beijei... Sem pensar em dar respostas...

Mas tinha feito uma pergunta... E ele parou, segurando a minha cabeça, olhou em meus olhos, a gente riu junto... Rimos um pro outro... E ele:

"Quem disse que é a primeira noite?" Esperava por isso já há quase vinte meses... Depois disso, juro que já não sei mais quem foi que beijou...

Pegamos um Taxi, fomos pra casa dele... escrevi uma mensagem pra Beatriz: "tô indo pra casa dele"... Enfiei o aparelho na bolsa... Falei pra ele que tudo seria mais fácil se ele tivesse celular... Aí ele disse que às vezes sentia vontade de ligar pra mim, mas não tinha coragem...

Aí eu falei que quando isso acontecia, eu mandava cartas... E ele falou que mandava flores... Aí eu falei do dia que o Jão, ele e eu ficamos conversando sobre cantadas, conquistas e coisas assim, e que eu tinha dito que achava romântico coisas criativas, novos sabores de bombons e doces, novos lugares pras flores... Nem imaginei que ele lembrasse disso... Nem imaginei que ele tivesse mandado o vaso de flores ou a cesta de chocolates... Aí lembrei do filme que chegou pelos correios, da estátua que apareceu na frente da minha casa certa vez... E do casaco que eu não sabia quem poderia ter mandado...

Será que foi de tanto eu rezar pra meu admirador secreto ser ele? Sei foi ou não... Comecei a rezar pra aquela noite não terminar nunca... Minha melhor noite... Pelo menos poderia durar bastante...

No rádio do taxi tava tocando Zélia Duncan... acho que era CD... E a gente estranhou porque geralmente a melhor coisa que os taxistas daqui ouvem é o Roberto Carlos...

Perguntei pro meu Mercos se era Zélia Duncan, ele disse que achava que sim e perguntou pro taxista pra conversar...

- É sim... Vocês gostam?
- Bastante - Aí pensou por alguns mínimos segundos - Qual é a música? Posso Saber?
- É Sortimento - respondeu o cara...

Achei que tinha haver com a gente... Mais que o Rambô...

Daí foi tudo um grande sonho... Lembro que eu acordei no outro dia... Ele dormindo feito um anjo... Os braços dele pareciam duas muralhas, me protegendo dos perigos de lá de fora... E eu nunca tinha me sentido tão protegida, tão amada, tão feliz... Peguei o celular na minha bolsa... olhei as horas, eram oito e treze, já... Mas acho que ainda era sábado ou domingo, então nem liguei...

Fui pro banheiro e liguei pra Bia... Contei mais ou menos como tinha sido tudo... Da Amanda à Zélia... Ela falou que se ele acordasse e não me encontrasse lá, ia sentir ainda mais vontade de ficar comigo... E que se eu deixasse um bilhete dizendo que voltava logo, ele ia ficar contando as horas pra esse logo chegar logo... Aí eu me olhei no espelho...

Fui até minha bolsa, peguei a caderneta, arranquei uma folha... Apoiei na capa da agenda e escrevi que voltava logo e que queria que ele esperasse por mim... Bia disse que tinha ficado perfeito... e que era pra eu colocar no criado mudo, na beira da cama dele... Mas eu já sabia bem o que fazer...

Depois de desligar o celular, coloquei-o na bolsa, peguei o batom, barquei um dos cantos do espelhe e ia colar o bilhete... Mas deu vontade de o amassar...

Aí tirei o celular da bolsa... Ele já saberia que eu voltaria se encontrasse o celular ali...

Deixei no criado mudo...

Aí fechei os olhos... Arranquei outra folha da caderneta, apoiei sobre o criado e escrevi a primeira coisa que me veio à cabeça... "Minha melhor noite, Meu melhor homem, minha melhor saída..."

MEU MELHOR HOMEM...

Aí pus embaixo "Volto antes das três..."

Putz! acho que voltava antes de meio dia... Mas deixei assim mesmo... Quanto maior a espera, acho que seria melhor...

Fui lá no banheiro e pressionei sobre o pedaço de batom, com o dedo... Aí vi minha imagem nua no espelho... Acho que tô gorda... O bilhete ficou grudado, aí eu voltei pro quarto pra pegar a minha roupa, me sentindo horrível depois de me ver no espelho... Aí olhei pra cama, e o vi, também completamente nu... E minha auto estima voltou ao auge quando me lembrei que há poucos minutos eu estava em seus braços...

Me vesti, beijei seu rosto e saí... Quando abri a porta do apartamento dele, tive a mesma sensação da noite anterior, quando nós dois chegamos... A sensação de já ter estado ali antes...

Fui pra casa da Bia... Acho que ela tem todos os discos da Zélia Duncan em casa... E eu precisava ouvir uma certa música...


3 Responses to “Qual é a música? Posso saber? (parte 2 e final)”

  1. Anonymous Anônimo 

    Eu já li esse texto algumas vezes e já te disse que gostei, então não vou falar dele.

    Gosteu da fotinha, msmo. E essa letrinha miuda eu não enxergo...

  2. Anonymous Anônimo 

    Yap, olhos verdes quebraram o clima escuro... azulado... (comentario simplorio frente ao texto, mas...).

  3. Anonymous Anônimo 

    O tempo passa...

    Onde estão as atualizações?

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